Entrevista com o Dr. Clovis Alvarenga Netto sobre inovação no ensino de engenharia

– 15 de fevereiro de 2019 –

Dr. Clovis Alvarenga Netto é professor do Departamento de Engenharia de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Em sua entrevista, o professor apresentou, em linhas gerais, o modelo inovador de metodologia que aplicou em sua disciplina, como o modelo foi implementado e os resultados obtidos.

Foto: UNIVESP
Foto: UNIVESP
No seu artigo, você fala em uma metodologia inovadora usada em sua disciplina de Engenharia de Produção. O que o levou a aplicar essa metodologia com seu grupo de alunos?

O que se tem observado é uma certa queda no interesse dos estudantes por cursos de engenharia, possivelmente causada pela apregoada dificuldade do curso. Também tem-se notado um certo desinteresse dos alunos pelos modelos tradicionais de ensino. Para tanto, busquei utilizar um modelo de ensino que fosse mais atraente, motivador e que engajasse mais os alunos no processo de aprendizagem, melhorando, assim, o desempenho deles.

Penso ser interessante você definir o termo Inovação. O que é inovar na prática de sala de aula?

De modo simplificado, inovação na sala de aula é a adoção de práticas em que o aluno participa mais ativamente, com desafios e problemas a serem resolvidos. É a aprendizagem baseada em resolução de problemas que tem evoluído para a aprendizagem baseada em projetos.

Explique brevemente o modelo de inovação por você implementado.

De forma resumida, em uma sessão com participação de todos os alunos, eu lanço um tema que será adotado pela turma. Os alunos se organizam em duplas e passam a discutir as perguntas provocativas do tema. São feitas três baterias de perguntas: a primeira, em que peço para os alunos identificarem os principais problemas que eles conseguem se lembrar quando o tema é lançado; a segunda é sobre o que poderia ser melhorado nos processos atuais e a terceira é sobre o que não tem sido feito, mas que, se viesse a ser realizado, provocaria grande diferença no resultado final. É uma forma (como mencionei anteriormente) de envolver os alunos, obter suas opiniões, instigar discussões e aprimorar as respostas dadas.

Você fala em motivação intrínseca e extrínseca. Gostaria que você explorasse esses dois tipos de motivação. Pelo que entendi da leitura do seu artigo, havia uma motivação externa (premiação). Não seria ela a responsável direta pelos resultados obtidos?

De acordo com Clayton M. Christensen, professor de Administração na Harvard Business School, considerado uma autoridade no campo da inovação, a motivação pode ser extrínseca ou intrínseca.A motivação extrínseca é a que procede do exterior da tarefa. No caso da nossa experiência educacional, havia dois fatores externos relevantes: a) uma premiação para os melhores trabalhos e b) uma avaliação dos projetos por uma banca externa (com profissionais desconhecidos pelos estudantes). A crença era que esse incentivo externo (prêmio e banca externa) promoveria maior interesse no desenvolvimento de bons projetos. Já a motivação intrínseca ocorre quando o trabalho em si estimula e impulsiona o indivíduo a continuar a realizá-lo. É uma motivação inerente ao indivíduo e que lhe é agradável e prazerosa. No caso estudado, o desafio de resolver um problema identificado como relevante pela própria equipe de alunos e a autonomia que lhes foi dada de atuação nos grupos foi fator motivador.No resultado final, ambos os fatores se mostraram positivos e os fatores extrínsecos se mostraram os mais expressivos pela ampla maioria dos estudantes. Também como resultados relevantes cito que a quase totalidade dos alunos matriculados concluíram os projetos e a maioria expressiva deles recomendaria a disciplina para outros colegas.

Como você descreveria a motivação do professor versus a motivação dos alunos nesse tipo de experimento?

O professor precisa estar motivado para fazer uso de métodos de ensino que exijam uma participação ativa dos estudantes. Esse professor se torna um facilitador, tirando dúvidas, dando orientações e indicando caminhos a serem pesquisados. É importante lembrar que as perguntas e dúvidas são sempre diferentes e enfocam o problema que o professor pode não ter considerado previamente. As perguntas dos alunos são o combustível para que essa relação seja profícua para ambas as partes. Como os alunos recebem retroalimentação pelo que demandam, esse ciclo de retroalimentação os motiva a continuar no caminho. Além disso, serem os alunos conhecidos como pessoas e não apenas como mais um na turma também reforça a autoestima deles, o que os leva a serem mais colaborativos e participativos.

Quais foram os fatores que mais marcaram a experiência dos alunos?

Creio que tenha sido a experiência de preparar um trabalho para ser apresentado para uma banca de avaliadores tanto acadêmicos quanto de mercado. Eles estavam se expondo a avaliadores que eles também não conheciam e, de alguma forma, precisavam impressionar com o trabalho feito. É uma questão de também aprender a “sobreviver” no mercado de trabalho e se projetar como desenvolvedores de propostas e solucionadores de problemas e desafios.