Evento do Cest discute interação de novas tecnologias com a diversidade cultural

por Júlio Viana Jornalismo Eca Jr.

Na última quinta-feira, dia 2 de julho, foi realizada a Jornada Diversidade Cultural e Novas Tecnologias, pelo Centro de Estudos Sociedade e Tecnologia (Cest). O evento aconteceu no Centro de Tecnologia da Informação de São Paulo (CeTI-SP), na Escola Politécnica (Poli) da USP, e reuniu especialistas de várias áreas do conhecimento, para discutir e apontar caminhos para a interação das novas tecnologias na promoção e manutenção da diversidade cultural pelo mundo.

O ciclo de palestras foi introduzido pelos professores Edison Spina, da Poli, e Maristela Basso, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, que começaram abordando as competências do Cest. Fundado em dezembro de 2013, o centro fomenta debates e pesquisas sobre os impactos das novas tecnologias da informação e da telecomunicação na sociedade atual. É um projeto nascido na Poli, mas que tem por objetivo envolver vários pesquisadores da USP e do mundo. Para dar introdução ao ciclo de palestras, a advogada Lilian Richieri Hanania falou, diretamente de Paris, sobre o objetivo da jornada e de seu tema. A proposta de discutir a relação entre as novas tecnologias e a diversidade cultural, importantes canais de expressão e que podem ser favorecer a expressão das diversidades culturais. O assunto está ligado às propostas da Convenção da UNESCO sobre Proteção da Diversidade das Expressões Culturais, que comemora dez anos agora em 2015. Com base nas premissas colocadas pela convenção, foram expostas as oportunidades e os desafios criados pelas mídias atuais, observando-se como abordam a cidadania e a diversidade cultural. Segundo a advogada, os painéis do evento tinham dois objetivos em comum: compreender melhor a realidade das novas tecnologias e compartilhar boas práticas quanto ao respeito à diversidade.

O ciclo de painéis abriu tratando os Desafios e Oportunidades Apresentados na Era da Informação. Foram palestrantes Edson Perin, jornalista e editor do RFID Journal e da NetPress Books, Vera Kerr, advogada especializada em Direito da Tecnologia da Informação, e Gilson Schwartz, economista, sociólogo e professor na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Tendo como moderador o engenheiro Mário Magalhães, os pesquisadores abordaram assuntos como a adaptação dos canais de comunicação ao mundo da informática, o Direito no campo da virtualidade e o aumento cada vez maior de informação presente na rede. Pelas discussões propostas, foi possível perceber como a sociedade de informação em que vivemos hoje mostra cada vez mais que, na era digital, a Internet é o maior espaço público existente e é preciso aprender novas formas de se lidar com isso.

O segundo painel se baseou no tema “Novas tecnologias e criação cultural”. Mediado pelo gestor cultural Piatã Kignel, contou com a presença de três importantes profissionais da áreas: Gabriela Augustini, sócia-diretora do “Olabi”, Makerspace com sede na zona sul do Rio de Janeiro; Vicent Carelli, vencedor do prêmio UNESCO pelo respeito à diversidade cultural e criador do Projeto Vídeo nas Aldeias, que insere o vídeo a serviço dos indígenas, tanto cultural como politicamente; e Luis Mauch, fundador da associação Mais Diferenças e criador do Whatscine , aplicativo para Android e iOS que oferece acessibilidade aos cinemas para cegos e surdos.

“Novas tecnologias e acesso à oferta cultural” foram tema do terceiro painel do dia, com discussões sobre a democratização de informação pela digitalização de materiais entre outros métodos de distribuição. Palestraram Daniel Álvarez Valenzuela, Paule Maillet e Antonio Carlos Morato, moderados pelo doutor em Direito, Guilherme Carboni. Valenzuela, advogado formado pela Universidad de Chile e fundador da ONG “Derechos Digitales Chile”, falou sobre os sistemas autorais modernos e seu funcionamento, a importância de se manter uma neutralidade tecnológica e a relevância que o processo de digitalização tem dentro da democracia. Maillet contou de sua responsabilidade em promover produções audiovisuais francesas dentro do país. Explicou também sobre o “My french Film Festival”, um festival de cinema online criado com o objetivo de rejuvenescer o público e aumentar a divulgação de produções da França pelo mundo, principalmente no Brasil, onde a maioria dos filmes não chegam no circuito comercial. Já Morato, professor doutor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, palestrou sobre direitos autorais na era digital, domínio privado e a digitalização de obras literárias.

O quarto e último painel do evento retratou a temática das “Novas tecnologias, cidadania e democracia.” Cristiano Ferri, doutor em ciência política e sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Giselle Dupin, funcionária do Ministério da Cultura, conversaram sobre como a política pública se relaciona com os novos meios de comunicação no mundo atual, enquanto eram moderados por Edson Perin. Ferri contou sobre como as novas mídias digitais conseguem transformar dados relevantes para a população, na Câmara dos Deputados, em informação de fácil compreensão. Seu exemplo foi o aplicativo que colocava em ranking os políticos que gastavam mais dinheiro público, onde despendiam essa quantia e em quais empresas investiam: informações que antes até poderiam ser encontradas, mas não interpretadas concretamente. Giselle explicou o trabalho que faz no programa público “Cultura Viva” que tenta fortalecer a gestão cultural nacionalmente. Com isso, estabeleceu relações entre a garantia dos direitos culturais dos cidadãos e como isso pode ser feito através das novas tecnologias.

Por fim, o evento foi encerrado pelo professor Edison Spina. Ao finalizar, agradeceu não só à plateia presente fisicamente no auditório, como também aos espectadores que os acompanhavam por meio do streaming disponibilizado no site. Segundo ele, as novas tecnologias se mostram cada vez mais comuns e acessíveis à população. Está tão simples acessar um computador e assistir a debates inteiros pela internet que já consideramos normal termos plateias virtuais nos observando. Fica claro, portanto, que a formação de cultura dentro da sociedade em que nos encontramos deve estar em pauta, principalmente a garantia de que ela atende à pluralidade natural da humanidade. Apenas aceitando as ferramentas que dispomos é que poderemos construir um futuro diversificado e democrático para todos.

A jornada “Diversidade Cultural e Novas Tecnologias” foi transmitida via streaming pelo site do CEST (http://www.cest.poli.usp.br/) através do IPTV. Mais informações sobre o centro de estudos podem ser encontradas neste website, como pesquisas e futuros eventos.