Como promover a diversidade cultural na internet

Especialistas realizam exposições e diálogos sobre como expressar a variedade cultural off-line no mundo digital, em evento promovido pelo CEST

Texto: Jornalismo Júnior da ECA-USP
Edição: Edson Perin

A II Jornada Diversidade Cultural e Novas Tecnologias trouxe novamente à tona a discussão sobre como viabilizar a expressão das mais diversas culturas no mundo digital, tendo como ponto central a convenção da UNESCO, de 2005. O evento foi realizado pelo Centro de Estudos Sociedade e Tecnologia (CEST), na quinta-feira, 19 de maio de 2016, na POLI-USP.

Na abertura, o Prof. Dr. Luiz Natal Rossi, um dos membros-fundadores do CEST, saudou os palestrantes e a oportunidade de fomentar o debate sobre o tema, dando destaque à importância das discussões sobre os impactos na sociedade proporcionados pelas novas tecnologias.

Clique aqui e assista à entrevista com o Prof. Dr. Luiz Natal Rossi

A pesquisadora do CEST, Dra. Lilian Richieri Hanania, que participou do evento por videoconferência diretamente de Pais, pontuou o tema da diversidade cultural e as novas tecnologias por meio da convenção da UNESCO de 2005, que visa à proteção e promoção das expressões culturais e sua diversidade.

O primeiro painel da II Jornada Cultural Diversidade e Tecnologia do Cest
O primeiro painel da II Jornada Cultural Diversidade e Tecnologia do Cest

Em seguida, deu-se início ao primeiro painel intitulado “Diversidade de expressões culturais na internet”, sob mediação do gestor cultural Piatã Kignel. A primeira exposição foi do Prof. Dr. Luis Albornoz, que discutiu a homogeneização ou diversidade do audiovisual em três ideias. Primeiro, pela internacionalização da indústria cultural iniciada no século XX. Depois, pela retomada da convenção da UNESCO, no sentido de reconhecer o seu valor como resposta à ausência de ações pela diversificação da informação. Por último, identificando o “novo ecossistema digital” como um dos maiores desafios do acordo da UNESCO.

Clique e assista a um trecho da palestra do Prof. Dr. Luis Albornoz

Em seguida, o presidente do Comitê Gestor da Internet do Brasil, Prof. Dr. Demi Getschko, elencou alguns aspectos que devem fazer parte do mundo digital, como a não interferência nos conteúdos, exemplificando com o que ocorre com o telefone, a capacidade de encaminhar livremente pacotes de informação e a neutralidade da rede. Para Getschko, a internet deve manter o seu caráter neutro, sem priorizar o que é trafegado.

Clique aqui e assista a um trecho da palestra de Demi Getscheko

O último palestrante do primeiro painel, o Prof. Dr. Carlos Affonso Souza, tratou da liberdade de expressão e do Marco Civil da internet, afirmando que existe certo preconceito em associar a lei com a noção de censura. Além disso, para ele, as leis devem ser mais baseadas em princípios, explicando que, quanto mais aprofundada for em uma tecnologia específica, mais rápido se tornará obsoleta.

Souza mostrou o conceito de “internet freedom”, ressaltando uma regulação que garanta liberdades e não ausência de regras. Por fim, explanou a ideia de neutralidade de rede, em que toda informação trafegada não pode ser discriminada pelo seu conteúdo.

Clique aqui e assista à entrevista com o Prof. Dr. Carlos Affonso Souza

Segundo Painel

O segundo Painel do evento recebeu o nome de “The role of private companies providing cultural content online in fostering the diversity of cultural expressions” e foi conduzido em inglês, com a moderação do pesquisador do CEST Mario Magalhães. Octavio Kulesz, editor da Teseo, não pôde comparecer ao evento, mas gravou um vídeo que foi projetado no começo das palestras. Em sua apresentação, comentou sobre as oportunidades e os desafios causados pelo avanço das tecnologias digitais, ressaltando que há uma diminuição nos custos de distribuição e aumento dos modos de comércio em todos os campos da indústria cultural. Kulesz frisou que existem espaços sem grandes influências digitais ao redor do globo, o que limitaria as produções apenas a uma parte da população.

Nos minutos finais de sua colocação, demonstrou preocupação com o comportamento de grandes plataformas, relacionando o controle de grandes corporações, como Google e Apple, ao entrave à diversidade cultural.

O pesquisador Heritiana Ranaivoson no telão, durante painel na II Jornada
O pesquisador Heritiana Ranaivoson no telão, durante painel na II Jornada

Em seguida, por videoconferência, o pesquisador Heritiana Ranaivoson compartilhou resultados de seus estudos sobre a chamada teoria “superstar”, em que há concentração de consumidores em apenas um produto ou pessoa, e “long tail”, ou “calda longa”, sobre a popularidade decrescente, lenta e consistente. Segundo seus trabalhos, três eixos principais balizam a diversidade: variedade, balanço e disparidade.

Os filtros de busca foram pauta das últimas considerações. O pesquisador do CEST, Prof. Lucas Lago, fez pontuações sobre o tema. Lago explicou que os mecanismos funcionam de forma similar à nossa mente. Algoritmos são criados para selecionar as informações e responder de forma rápida à situação solicitada ao sistema, semelhante às captações cerebrais. O palestrante afirmou que a rede social Facebook usava apenas três parâmetros para definir as postagens que aparecem no feed de notícias dos usuários: afinidade, tempo e popularidade. Disse ainda que hoje já existem aproximadamente mil parâmetros.

Clique aqui e assista à entrevista com o Prof. Lucas Lago, pesquisador do CEST

O palestrante apresentou ainda quatro características que poderiam ajudar na diversificação das expressões culturais: a transparência no uso e tráfego de dados; a criação de um modo para sair permanentemente da vigilância dos filtros de busca; uso de navegações sem customizações; e criação de algoritmos que ofereçam resultados mais abrangentes nas pesquisas em mecanismos de busca.

Os momentos finais do evento foram de perguntas e comentários. Quando questionado sobre os agentes de regulação para resolver os impasses causados pelo uso de filtros, Lago levantou os problemas suscitados pelos polos público e privado. De um lado, as leis podem não agir em tempo hábil; de outro, pode haver maior alinhamento às vontades corporativas.

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