Entrevista com o Professor Dr. Romero Tori sobre Educação Imersiva

– 25/04/2019 –

 

Entrevista com o Professor Dr. Romero Tori sobre Educação Imersiva Romero Tori é professor colaborador do CEST. Ele tem coordenado e desenvolvido várias pesquisas sobre tecnologias interativas com ênfase entre outras aplicações em educação.

O que é Educação Imersiva?

O conceito de imersão em educação não é novo. Um exemplo são os cursos de imersão para aprendizado de línguas. Basicamente, a educação imersiva se refere a colocar o aluno diretamente em contato com o conteúdo da aprendizagem. Uma coisa é o aluno ouvir ou ver explicações sobre determinado assunto. Outra é ele vivenciar a experiência. É o conhecido “aprender fazendo”. Podemos aplicar a aprendizagem imersiva num curso de artes, por exemplo, levando os alunos para visitar museus ao redor do mundo. Ou treinar bombeiros colocando-os em incêndios reais. Mas como se vê, nem sempre é viável, seguro ou adequado colocar o aluno em situações reais de imersão. Mas hoje existem as tecnologias imersivas, conhecidas como realidade virtual e realidade aumentada, que possibilitam simular ambientes imersivos, com segurança, realismo e baixo custo. Por meio de óculos especiais e, eventualmente, dispositivos de interação, é possível colocar o aluno dentro de ambientes que simulam de forma realista espaço, objetos e seres vivos com os quais interage e desenvolve seu aprendizado. Então, hoje, quando se fala em “educação imersiva”, em geral, se considera que as atividades de aprendizagem envolvam o uso de tecnologais imersivas.

Professor Dr. Romero Tori
Quais os benefícios advindos de uma Educação Imersiva?

A aprendizagem é mais eficaz e eficiente quando o aluno interage diretamente com o conteúdo a ser aprendido. Alguns desses conteúdos, como treinamentos de habilidades sensório-motoras, são naturalmente mais indicados para treinamentos imersivos, pois tais habilidades envolvem manipular instrumentos e interagir com objetos ou seres vivos. Como tais atividades podem envolver riscos e custos altos, o uso de simuladores de realidade virtual ou aumentada é uma excelente alternativa por propiciar realismo, a baixo custo e sem riscos.

Os professores do ensino superior estão conscientes dessa modalidade de ensino? Caso negativo, como fazê-los apropriar-se de sua prática?

A exemplo do ocorrido com outras mídias e tecnologias, como videos, internet, dispositivos móveis ou games, há uma certa demora, e às vezes resistência, na adoção por parte de professores. Além do desconhecimento há preconceitos, muitas vezes acentuados pelo mau uso que alguns fazem da tecnologia. As tecnologias imersivas não são solução para tudo. Há situações em que são muito indicadas e outras em que são contra indicadas. Maus exemplos acabam servindo de desculpa para a rejeição de novas tecnologias. Para melhorar esse quadro é preciso colocar os professores em contato com ambientes imersivos de sua área do conhecimento, que já tenham sido validados por professores da mesma área, para que eles sintam a diferença que podem provocar no aprendizado de seus alunos. Pela minha experiência quando o sistema imersivo tem qualidade, faz sentido e atende a uma necessidade pedagógica, o professor percebe isso logo no primeiro contato.

Onde e como a Educação imersiva vem sendo trabalhada ou tratada no Brasil?

Por enquanto está sendo mais explorada nos laboratórios de pesquisa, como no Interlab (Laboratório de Tecnologias Interativas) da Poli/USP, e em alguns outros laboratórios da própria Poli, de outras unidades da USP e de outras instituições. Alguma startups estão sendo criadas para desenvolver ambientes imersivos para a educação, algumas delas com financiamento da FAPESP. Algumas instituições de ensino de ponta já começam a adotar tecnologias imersivas como mais uma mídia a disposição do professor. Mas tanto no Brasil, como no exterior, a adoção generalizada dessas tecnologias também levará um tempo pois há a necessidade de muita pesquisa e desenvolvimento para se explorar o potencial dessas tecnologias, desenvolver e validar ambientes de treinamento e colocá-los em sala de aula.

Que recomendações você dá para quem quer se aprofundar nessa nova modalidade de ensino?

O primeiro passo é ter contato com a tecnologia imersiva. Isso é possivel até mesmo usando o próprio smartphone e adaptadores chamados de cardboard. Há inúmeros aplicativos e jogos gratuitos que demonstram muito bem o potencial da realidade virtual e da realidade aumentada. Em seguida buscar por materiais e experiências relacionadas ao uso dessas tecnologias em sua área de atuação como professor. Busca por artigos que fazem uma revisão do estado da arte do tipo “uso de realidade virtual (ou realidade aumentada) no ensino de…” são um bom começo para se aprofundar no tema, já focando em sua área de interesse. Para quem quiser conhecer mais a fundo essas tecnologias recomendo o livro, que pode ser baixado gratuitamente no site do Interlab (pcs.usp.br/interlab), “Introdução a Realidade Virtual e Aumentada”.

Quais são os desafios para curto e médio prazo na Educação que busca integrar ambientes virtuais com os presenciais?

Os desafios são parecidos com a adoção de qualquer nova mídia: pesquisar, desenvolver e validar novas ferramentas; expurgar soluções baseadas em modismos e focadas na tecnologia em vez de na metodologia pedagógica; capacitar professores; vencer resistências; conseguir recursos para aquisição de equipamentos especializados.

A gamificação poderia ser um exemplo de Educação Imersiva?

Não necessariamente. Podemos ter games imersivos e não imersivo, assim como podemos ter educação imersiva gamificada ou não. Mas é inegável a força da junção dessas duas tecnologias. Basta vermos que os games de maior sucesso são praticamente imersivos (mesmo sem usarem equipamentos de realidade virtual), dado o realismo e o uso de ambientes e personagens tridimensionais.

Que recomendações você daria aos professores que desejam utilizar novas propostas de ensino que vão além dos limites da sala de aula tradicional?

Não se deixar levar por modismos nem por preconceitos. Ser aberto a conhecer e explorar novas tecnologias, conhecendo seus pontos fortes e fracos. Inspirar-se em casos de sucesso. Por fim, recomendo envolver os alunos. Eles são os maiores interessados, tem facilidade para aprender a usar novas tecnologias e se engajam mais facilmente quando participam das escolhas e decisões.