Entrevista com a professora Maria Luiza Ramos sobre metodologias ativas

– 28 de fevereiro de 2020 –

Malu Ramos é Pós-graduada em “A Moderna Educação: Metodologias, Tendências e Foco no Aluno”, PUC/RS; MBA em Gestão Escolar, pela Universidade Anhembi Morumbi; pós-graduada em Neuroeducação, pela UniÍtalo; pós-graduada em Planejamento e Administração Escolar pela Universidade São Judas, e graduada em Pedagogia, pela Universidade de São Paulo. Formada em Coach com certificação internacional ICI – International Association of Coachng-Institute; Trainer e Master Practitioner em Programação Neurolinguística com certificação internacional IN – International Association of PNL-Institutes.

Atualmente é formadora de cursos de formação continuada para gestores de escolas públicas na Elos Educacional. Também atua como Coach com Programação Neurolinguística.

Atuou como professora da educação infantil, ensino fundamental e médio e do ensino superior. Além disso, atuou como coordenadora pedagógica, supervisora escolar, assessora técnica na Secretaria de Educação, como formadora de educadores, consultora em educação.

1. Quais são os maiores desafios, limites e potencialidades existentes para se renovar na Educação?

O mundo atual vive um período de mudanças cada vez mais rápidas, em que predomina a incerteza e a ambiguidade exige que o indivíduo esteja preparado para o enfrentamento de problemas complexos.

Os educadores se defrontam com mudanças rápidas na sociedade, na tecnologia e na economia. Tais mudanças demoram para chegar às escolas e muitas delas não chegam.

Para viver nesse novo mundo, as novas gerações precisam passar por um processo educacional inovador, que lhes dê condições de protagonismo que não existe no modelo tradicional de ensino.

No Brasil, o grande desafio da atualidade para a educação pública é promover a qualidade de ensino que garanta a aprendizagem para todos os alunos.

Percebo que existe hoje uma grande dicotomia entre as escolas públicas e as particulares. Essas estão mais conectadas com a modernidade e com a tecnologia que está presente no cotidiano da sociedade.


2. Que entraves você vê quanto à formação dos professores para que estes se sintam confortáveis em buscar novas formas de ensinar e novas metodologias?

Alinhar-se com as características do mundo moderno é um grande desafio para a Educação, pois os educadores de hoje foram formados por uma metodologia tradicional e precisam atualizar-se em relação às metodologias ativas, de maneira que possam contribuir com o aluno para que ele adquira uma aprendizagem que considere as novas maneiras de interagir com o presente e com o futuro incerto.

É necessário que os professores entendam a importância de incorporar à sua prática conhecimentos relativos à comunicação audiovisual e às novas tecnologias digitais. Tenho notado em minha prática que as crianças e adolescentes de hoje se conectam muito mais com vídeos do que com textos escritos de maneira tradicional.

3. Como você define metodologias ativas? Que papéis os professores e os alunos exercem nessa metodologia?

Metodologia ativa é aquela em que o aluno é o personagem principal e passa a ser mais responsável pelo seu processo de aprendizagem. Ele atua de maneira autônoma e participativa para adquirir e manejar seus conhecimentos, com vistas à construção de seu aprendizado.

Nesse novo lugar no processo de ensino e aprendizagem, o aluno deixa de ser aquele que assiste aulas, que decora o que precisa mostrar nas provas e passa a assumir um papel ativo, mais coerente com as suas necessidades atuais em um mundo que exige cada vez mais capacidade de aprender a aprender continuamente.

Nas metodologias ativas, o aluno usa as mais diferentes fontes de informação – e não só o professor – para aplicá-las na solução de problemas e situações que lhe são propostas para o desenvolvimento das competências e habilidades requeridas pelo currículo.

São exemplos de metodologias ativas: aula invertida, ensino híbrido, design thinking, metodologia de projetos, mão na massa, aprendizagem baseada em problemas, gamificação, grupos operativos, peer instruction, cultura maker, etc.

Nessa situação, o professor deixa de ser o detentor de todo o saber a ser trabalhado em sala de aula e passa a assumir o papel de mediador entre o aluno e o conteúdo que está sendo trabalhado. E, na posição de mediador, cabe-lhe os papéis de:

  • curador, isto é, aquele que seleciona o que é relevante que o aluno aprenda;
  • facilitador – auxilia o aluno acessar os conteúdos e desenvolver habilidades como pesquisa, compreensão, análise, crítica, síntese etc.
  • orientador da atividade educacional dos alunos.


4. O que é transformar na Educação? Como transformar posturas já arraigadas em métodos e práticas mais significativas para os educandos?

Transformar a Educação implica em mudar o foco do processo de ensino e aprendizagem, deslocando-o do professor para o aluno, que passa a ser o protagonista da cena.

Nessa perspectiva, a educação tradicional, com aulas essencialmente expositivas cede lugar na maior parte do tempo para metodologias em que o aluno seja o protagonista e corresponsável pelo seu aprendizado. É o aprender fazendo e não só assistindo.

As posturas antigas, que não fazem mais sentido para as novas gerações só poderão ser transformadas à medida em que os professores se mantiverem em formação permanente, conectados com a atualidade. Sabemos que a vida do professor não é fácil, correndo o dia todo, mergulhados em uma rotina desgastante. Porém, se mantiverem uma mentalidade de crescimento, eles procurarão maneiras diversas de lutar para criar um espaço em sua agenda para se dedicar à formação contínua, uma exigência do mundo moderno para todos os profissionais.

Por outro lado, o professor precisa de apoio institucional para dar conta de modificar sua forma de atuação em sala de aula. Gestores escolares e coordenadores pedagógicos são os apoiadores mais próximos. Porém, não podemos esquecer eles só conseguem agir apoiados por políticas públicas que incentivem ações inovadoras nas escolas. E, nesse ponto, chamo a atenção para a necessidade dos órgãos de poder da educação desenvolverem ações concretas de apoio e incentivo à implantação de novos modos de ensinar, que promovam aprendizagem consistente nos alunos.


5. Quais são as competências e habilidades desenvolvidas a partir de uma metodologia ativa?

As competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) são aplicáveis às metodologias ativas, valendo para todos o tempo de formação de um indivíduo. São elas:

  1. conhecimento,
  2. pensamento crítico, científico e criativo,
  3. repertório cultural,
  4. comunicação,
  5. cultura e comunicação digitais,
  6. cidadania e projeto de vida,
  7. argumentação,
  8. autoconhecimento e cuidado consigo mesmo,
  9. empatia e colaboração, e
  10. saber se relacionar com o mundo e com a sociedade.

Tendo em vista que uma metodologia pode desenvolver mais uma competência do que outra, é aconselhável usar mais de uma nas salas de aula.

Além disso, vale destacar que as metodologias ativas desenvolvem nos alunos soft skills importantes para atuarem na vida, tais como:

  • autonomia,
  • confiança,
  • aptidão em resolver problemas,
  • protagonismo,
  • empatia,
  • colaboração,
  • senso crítico,
  • responsabilidade,
  • comprometimento com o próprio aprendizado.

6. Que outras considerações podem ser tecidas acerca de práticas de metodologias ativas?

Ao implementar metodologias ativas em sala de aula, a escola traz inovação e desenvolve as competências dos alunos demandadas pela sociedade em que vivermos.

Portanto, é necessário que as políticas públicas de educação busquem formas de incentivar a formação de professores que implementem essas novas formas de ensinar e promover a aprendizagem dos alunos.