Mudanças trazidas pelas novas tecnologias não podem mais ser ignoradas – Jornada “Diversidade cultural e novas tecnologias” I

Especialistas das áreas do Direito, Economia e Comunicação debateram sobre a Internet e suas implicações na sociedade civil
Por Guilherme Caetano (Eca Jr.)

Desafios e oportunidades da era da informação são tema do primeiro painel da Jornada Diversidade Cultural e Novas Tecnologias. Importância da comunicação digital e privacidade de dados foram abordados no debate. O evento foi realizado no Centro de Tecnologia da Informação de São Paulo (CeTI-SP), localizado na Escola Politécnica da USP, e organizado pelo Centro de Estudos Sociedade e Tecnologia (CEST), também ligado à universidade, no dia 2 de julho de 2015.

Especialistas das áreas do Direito, Economia e Comunicação debateram sobre a Internet e suas implicações na sociedade civil. O jornalista Edson Perin, editor do RFID Journal e da Netpress Books, foi o primeiro a palestrar, relacionando a explosão do número de veículos de comunicação com a fragmentação da audiência das grandes empresas. “Não há mais como dizer que existe um campeão de audiência, como a Globo fazia na década de 1970”, afirma. Para o jornalista, as redes sociais se tornaram a grande ferramenta da comunicação individual em todo o globo, levando pessoas a produzirem o próprio conteúdo e distribuí-lo para outras centenas de milhares. “As pessoas e as empresas agora são mídia”, analisa Perin, “e possuem maior poder de massa do que as próprias mídias de massa”.

Vera Kerr, advogada e também ligada ao CEST, destacou a necessidade de se conviver melhor com a realidade da sociedade da informação. Para isso, mostrou a urgência do diálogo entre o Direito e as novas tecnologias, já que não existe uma separação entre realidade e virtualidade, como geralmente considerado pelas pessoas. A Internet seria, de acordo com ela, o maior espaço público do planeta: “os atos e os fatos praticados no mundo real têm repercussão no mundo virtual. Ignorar o virtual é legislar para uma sociedade que não existe mais”. Vera está atualmente se especializando neste ramo tão negligenciado pelo Direito, e que traz um ‘medo paralisante’ nos juristas, como ela mesma define. “Não há mais como ignorar a Informática. Para que a regulação da Internet seja eficiente e relevante, é preciso entendê-la”.

O mundo ‘desterritorializado’ da era digital, a redução drástica no custo de transmissão de dados e o uso de novas tecnologias de armazenamento são apontados por Vera como as grandes características dessa sociedade da informação. Com tantos dados se tornando tão acessíveis, vem também a necessidade de sua proteção. O economista e sociólogo Gilson Schwartz trouxe ao debate a análise de que, apesar dessa importância já irrefreável das tecnologias da informação, a sociedade nunca terá todo o conhecimento que precisa e que busca armazenar. Afinal, a maior parte da informação se encontra em um ‘não-lugar’, assim exposto por ele mesmo: o futuro. “Teremos de conviver com essa limitação”, consente o pesquisador, antes de questionar se digitalizar o mundo é realmente pertinente. Schwartz acredita que, desde a última grande crise do capitalismo, em 2008, percebe-se cada vez mais que o dinheiro não funciona, e quando o faz, amplia a desigualdade social. “Se existe algo que anula o particular e as diferenças em função de um postulado de universalidade é o dinheiro”.